terça-feira, 3 de março de 2009

Momento Saúde

"Conhece-te a ti mesmo", diz o lema do curso de Anatomia Humana; lema que me diz muito pouco porque a frase já é tão batida que perdeu parte do significado. Mas reconheço que é perfeito pra matéria, afinal, você é um corpo. E, para aqueles que acreditam, uma alma também (mas e daí?). Bem, a questão é que eu tava estudando, e logo na introdução da matéria vinha isso (sente a responsabilidade)

"Ao te curvares com a rígida lâmina de teu bisturi
sobre o cadáver desconhecido,
lembra-te que este corpo nasceu do amor de duas almas,
cresceu embalado pela fé e pela esperança daquela que em seu seio o agasalhou.
Sorriu e sonhou os mesmos sonhos das crianças e dos jovens.
Por certo amou e foi amado, esperou e acalentou um amanhã feliz e
sentiu saudades dos outros que partiram.
Agora jaz na fria lousa, sem que por ele se tivesse derramado uma lágrima sequer,
sem que tivesse uma só prece.
Seu nome, só Deus sabe.
Mas o destino inexorável deu-lhe o poder e a grandeza de servir à humanidade.
A humanidade que por ele passou indiferente"


"O.o", pensei eu. Na verdade nunca me ocorreu a idéia de ver um cadáver como 'alguém', algo que já possuiu sentimentos. Pra mim sempre foram carcaças, puros objetos de estudo. Até mesmo quando cogitei a possibilidade de ser legista, ainda assim, pra mim, descobrir o modo como morreram era uma espécie de jogo, não estava ligado a nenhum dever moral ou qualquer coisa dessas. Ou mesmo quando fui ao enterro de pessoas queridas eu olhava a face fosca e pensava: onde será que está agora? Porque você sabe que 'aquilo' não é mais alguém.
Enfim; porém, logo após ler esse texto eu senti quase uma compaixão por todos os indigentes do mundo que foram cortados, expostos e analisados puramente com a razão sem que ninguém tivesse lhe dito: "ei, obrigado por nos entregar seu corpo, nos ajudará muito em nossa formação, obrigado mesmo."... mas a sensação veio e foi como um raio, porque logo depois eu pensei: O que seria de mim se cada cadáver que eu fosse estudar eu soubesse o nome, como viveu e quantas pessoas choraram por ele; ou pior!, que teve um nome, viveu, amou e morreu sem que ninguém sentisse que partiu? Seria como assistir miseráveis vezes uma história real com o mesmo fim mórbido. Eu simplismente não sei se conseguiria cortar ao meio, retirar e analisar as vísceras de uma criatura assim, como sei que não conseguiria fazer isso com o cadáver de algum parente meu. Então cheguei a seguinte conclusão: são como as conchas de um molusco, tudo o que eu tenho é só a concha, o indivíduo se foi; ali não existe mais nada a não ser restos de um sistema que não pode mais ser operacionado, não serve pra mais nada a ninguém a não ser para estudo ou, se houver alguém por ele, para lamentações de algo que poderia ter sido e não foi; mas!, talvez tenha um significado maior para algum alguém que está por aí... Então, eu não vou dizer "obrigado" a uma concha; o que vou fazer é uso dela, e me tornar a melhor profissional que puder com isso; é a única maneira de não me afetar demasiadamente e ainda assim, honrar sua existência.




[ah! para os maiores de dezoito anos: DOEM SANGUE! O Brasil precisa de cerca de 5.500 bolsas de sangue por dia, com a sua ajuda só faltarão 5.499! É possível que você se sinta fraco e tonto depois disso, mas poderá salvar até 3 pessoas de uma morte terrível e dolorosa ;]. Para alguma dúvida, acesse: http://www.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=2013]

Um comentário:

Jalyson disse...

teu texto ficou massa, chega dá um medo de ler quando você vê o tamanho, mas ficou bem envolvente e quando eu percebi, já tinha terminado OIAUHSIUHAISHIUDHAS

e ei! charlotte e shannon podem não ser irmãs gêmeas, maaaaas, elas tem uns traços em comum sim. o que eu achei nada a ver na doidice de mainha foi uma ter morrido e ser loira. mas de rosto, repito, elas tem um traço em comum.

e eu vou doar sangue, esse mês ainda. aiushiauhsiuhdiuahs eu ia antes do carnaval, mas o tempo vai passando e tals. mas semana que vem eu vou :D